Seria Deus todo Poderoso fazendo justiça?

O Eclipse do dia oito de Abril de 2024 em cima dos Estados Unidos vai começar por Salem em Massachusetts.

Cidade onde enforcou acusados de feitiçaria recebe 1 milhão de visitantes por ano.

O dia 19 de agosto de 1692 foi um dos ápices do famoso julgamento das Bruxas de Salem, o caso mais conhecido de caça às bruxas, que ocorreu naquele ano em uma pequena cidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, numa colônia britânica puritana em que a Igreja comandava tudo.

Cerca de 200 pessoas foram presas ou acusadas de bruxaria e 20 condenadas à morte — cinco delas executadas neste dia.

Num país obcecado por julgamentos, Salem, na costa norte de Massachusetts, serve como um símbolo dos exageros que podem ser cometidos em nome da lei.
Lá, em 1692, 19 pessoas foram enforcadas, com provas inconsistentes, por bruxaria.

A cidade se arrependeu do fato, fez um mea-culpa poucos anos depois e até hoje explora as bruxas no turismo local -o perfil de uma mulher sobre uma vassoura está em toda parte, dos suvenires ao logotipo do jornal local.
Tudo começou em janeiro de 1692, quando a filha e a sobrinha do reverendo Samuel Parris ficaram doentes. O médico de Salem, William Griggs, foi chamado e diagnosticou… bruxaria. As meninas não ofereciam explicações claras para o ocorrido.
Surgiram outros casos semelhantes. Um clima de histeria tomou toda a região. O júri dos vários casos que foram levados à corte tomava decisões sob forte pressão da população -pela lei britânica, em vigor na então colônia, praticar bruxaria era crime punível com a morte. Quem ousava defender as “bruxas” acabava sendo também acusado.
Ao final dos julgamentos, 14 mulheres e 5 homens haviam sido enforcados. Um homem foi castigado até a morte. Mais de 150 pessoas haviam sido julgadas, e muitas delas, condenadas, morreram em prisões desumanas.
Os julgamentos duraram de junho a outubro daquele ano, até que o governador interveio e mudou a composição do tribunal. Um novo juiz deixou de aceitar como provas testemunhos de que as bruxas usavam o poder de sua mente para torturar as vítimas. Era o fim do terror de Salem.
Mancha negra
Bruxaria deixou de ser crime naquela região em 1694. Em 1696, a Justiça local pediu desculpas às vítimas. Hoje, acredita-se que as meninas que deram origem ao caso tenham ficado doentes porque comeram pão estragado.
Os julgamentos de Salem se tornaram uma mancha moral para os americanos. Nos anos 50, não poucos intelectuais compararam os incidentes de 1692 com o macarthismo (a perseguição a comunistas e supostos comunistas).
Por isso Salem, a 30 minutos de Boston, recebe hoje mais de 1 milhão de visitantes por ano, a grande maioria de norte-americanos.
A principal atração é o Museu das Bruxas, um castelo em estilo gótico “fake”, construído em 1845 originalmente para ser uma igreja.
O forte do museu é a reconstituição dos fatos usando figuras em tamanho natural, efeitos de luz e uma narração grave. A apresentação dura meia hora, aproximadamente, e o museu oferece traduções em outros cinco idiomas.
Outros museus também tentam aproveitar a fama da cidade. The Witch House é o local onde viveu o juiz Jonathan Corwin, que atuou no caso. Há ainda o Witch Dungeon Museum e um museu de cera. Em 31 de outubro, acontece a maior festa de Salem, o Halloween. (RODRIGO LEITE)

A caça só terminou quando o governador William Phipps atendeu a um pedido do então presidente da Universidade Harvard, que denunciou o uso de evidências especulativas — testemunhos sobre sonhos e visões. “É melhor que dez bruxas suspeitas escapem do que uma pessoa inocente seja condenada”, escreveu. Pressionado por isso, e pelo fato de a própria esposa estar sendo acusada de bruxaria, decretou o fim do julgamento em 29 de outubro.