Ao observar o deserto de perto, as planícies de rocha, bem visíveis ao reflexo prateado da lua.
Instintivamente, olhei para cima, e lembranças dolorosas me atacaram.
Fogo no céu. O sangue que queimava como óleo. Um forte, estridente barulho de trombeta, de metal.
Espadas. Lâminas que se chocavam. Gritos de combate. Calor. Ódio.
O coração que clamava por justiça. E o chão desmoronando sob nossos pés, uma força terrível que nos dragava para baixo, nos puxava para fora, ferindo-nos.
Em seguida as estrelas. O espaço. O frio.
Uma explosão nebulosa. Caíamos, despencávamos e não conseguíamos mais voar.
Abandonados, expulsos. Renegados.
A matéria sucedeu-se ao abismo. A terra. A areia que grudava na pele. As assas manchadas de sangue. A vergonha que se transformara em vingança. Era a expulsão dos anjos renegados. Eram minhas lembranças, minhas últimas e mais profundas recordações de insurreição e de nossa posterior chegada ao mundo dos homens.
Acontecera ali, naquelas mesmas planícies, que hora me encontrava. O deserto fora nosso ponto de partida. A terra nossa prisão.
E ali, desde então, na Terra de Nod, cidade das nações antediluvianas, a Haled é nossa “eterna, “imortal” morada.
Desconsolados e perseguidos, os anjos renegados caminharam juntos para oeste, escapando de seus algoses, até encontrar a cidade devastada de Enoque, submersa nas entranhas do mundo desde o dilúvio que a liquidara.
Rancorosos e vingativos, os espíritos de seus habitantes que ainda vagam pelos escombros da metrópole afundada, aceitaram-nos em seu refúgio. Reconheceram-nos como inimigos dos arcanjos, e, com sua energia astral levantaram uma cobertura mística, que ocultou nossa aura pulsante.
Naquela cidade perdida, naquele lugar não seríamos descobertos e teríamos o tempo necessário para planejar nossa entrada na sociedade mortal. Aprendemos a ocultar nossas vibrações e decidimos não desprender mais as asas, a fim de nos confundirmos com os humanos.
Enoque foi nosso santuário, o primeiro e último refugio da Irmandade dos Renegados, o lugar onde aquele formidável grupo de guerreiros se reuniu pela última vez.
E foi ali, no túmulo dos homens daquela cidade perdida que deixamos nossa divindade. Foi ali que abandonamos nossa glória.
“A Batalha do Apocalipse”, meu último livro a ser lido, não entendi a frase:
“O Coração que Clamava por Justiça”. Por que os corações dos anjos renegados clamavam, e por que afinal a expulsão? Qual foi a rebelião? E o motivo?
Há muito a ser explicado, muito a ser entendido sobre a luz das estrela sob a luz do luar…
Sonhos vagos, vontades divididas amores incompletos, saudades contidas. Há vazios em nós que não sabemos explicar.
Há inversão de valores, há ainda muita mentira no ar, verdades inventadas e alegorias fantasiosas.
Somos todos anjos caídos? Não sei. Sei apenas que eu sem Deus e sem meu Irmão Jesus sou nada.
Mas a tristeza que as vezes me invade clama ao Senhor que nos perdoe a todos que habitam aqui, pois ficar para sempre longe de nosso verdadeiro lar vai ser terrível, embora muitos pensam que isso não existe, mas eu creio num novo céu e numa nova terra, onde todos estarão habitando para todo o sempre.
E…que…
Não exista mais divisão, nem status nem qualquer outra diferença entre nós.
Amém
AO DEUS PAI TODO PODEROSO E AO FILHO JESUS TODA HONRA E TODA A GLÓRIA PARA TODO SEEMPRE
AMÉM